Integridade Visual nos Monumentos Vivos

os jardins históricos de Roberto Burle Marx

Publicado
2024-01-06
Palavras-chave: Jardim Histórico, Integridade Visual, Monumento Vivo, Burle Marx, Recife Historical Garden, Visual Integrity, Living Monument, Burle Marx, Recife Jardín Histórico, Integridad Visual, Monumento Vivo, Burle Marx, Recife

    Autores

  • Joelmir Marques da Silva Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano https://orcid.org/0000-0002-8323-7171

Resumo

A vegetação é a essência do jardim histórico e, por isso, as ações de conservação precisam garantir a integridade e a autenticidade considerando o ciclo de vida do vegetal e, consequentemente, as substituições periódicas de espécies. Embora, para a obra de arte em geral a integridade esteja diretamente associada à autenticidade da matéria, no jardim histórico esta relação não acontece da mesma maneira pela sua condição de obra de arte efêmera - perecível e renovável. A autenticidade de uma obra de arte está direcionada à condição de genuíno como oposto ao falso ou copiado, já a integridade está atrelada ao significado de continuidade e honestidade em oposição a fragmentado e destruído. O conceito de integridade para jardim histórico ainda está em fase embrionária, por isso, adotou-se a noção de integridade visual do bem cultural, proposta por Jukka Jokilehto, atrelando-a ao componente vegetal sob a lente dos aspectos estéticos representados em um determinado lugar. Defende-se a tese de que a integridade visual do jardim histórico independe da autenticidade das espécies vegetais [matéria] desde que as novas espécies possuam atributos plásticos compatíveis aos do projeto original. Isto pode incluir a ação do restauro em que segundo Cesare Brandi, o que se restaura é a imagem e não a matéria. Objetivou-se, assim, discutir o conceito de integridade visual no jardim histórico, bem como elaborar uma metodologia de verificação então direcionada com a construção da fitocronologia e do palimpsesto vegetal e testando-a em dois jardins históricos do paisagista moderno Roberto Burle Marx e projetadas em 1935: a Praça Euclides da Cunha e a Praça de Casa Forte, e que são reconhecidos como patrimônio cultural nacional. Com isso, se alcançou a compreensão de que a integridade visual de um jardim histórico é aquela que permite o especialista perceber e sentir uma emoção estética proporcionada pela ideia de quem o concebeu - o que garante a autenticidade da criação - porém, independe da autenticidade da matéria, do vegetal em si. Com a verificação da integridade visual em tais praças, percebeu-se a presença da evocação artística que não se encontra em outros tipos de jardins. São jardins distintos, com personalidade, cheios de significados e que possibilitam integrar o ser humano em sua história de uma maneira simples, natural e eficaz ao mesmo tempo. 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Referências

AÑÓN-FELIÚ, C. El jardín histórico: notas para una metodologia previa al proyecto de recuperación. In: Jardins et Sites Historiques. Madrid: Ediciones Doce Calles, ICOMOD/UNESCO, 1993, p. 312-325.

_____. Del jardín histórico y su rehabilitación. Nueva Revista, n. 40, v. [s/v], p. 116-124, 1995a.

_____. Authenticité: Jardin et paysage. Japon: UNESCO; ICCRON; ICOMOS, 1995b.

_____. Introducción. In: AÑÓN FELIÚ. El lenguaje oculto del jardín: jardín y metáfora. Madrid: Complutense, 1996. p. 7-8.

_____. La restauración de los jardines históricos. Anais…La doctrina de la restauración a través de las cartas internacionales, 2005.

BRANDI, C. Teoria da restauração. Cotia: Ateliê Editorial, 2004.

CARBONARA, G. Avvicinamento al restauro: teoria, storia, monumenti. Napoli: Liguori Editore, 1997.

CARTA DE FLORENÇA (1981). In: CURY, I. (Brasil). Cartas Patrimoniais. 2. ed. Rio de Janeiro: IPHAN, 2000. p. 253-258. Edições do Patrimônio.

CATALANO, M.; PANZINI, F. Giardini storici: teoria e tecniche di conservazione e restauro. Roma: Officina edizioni, 1990.

GIEDION, S. Le Brésil et l’architecture contemporaine. L’Architecture d’Aujourd’hui, ano.23, n. 42/43, 1952, p. 3.

GIUSTI, M. A. Restauro dei Giardini: teorie e storia. Firenze: Alinea Editrice, 2004.

JOKILEHTO, J.; FEILDEN, B. Management Guidelines for World Cultural Heritage Sites. UNESCO-ICOMOS – ICCROM, 1993.

HAJÓS, G. Jardines históricos y paisajes culturales: conexiones y límites. Teorías y experiencias en Austria. Revista ICOMOS/UNESCO, v. (s/v), n. (s/n), 2001, p. 1-9.

JOKILEHTO, J. Comments on the Venice Charter with illustrations. Scientific Journal, v. s/v, n° 4, p. 61-76, 1994.

_____. Reconstruction of ancient ruins. Conservation and Management of Archaeological Sites, v.1, n.s/n, p. 69-71, 1995. DOI: https://doi.org/10.1179/135050395793137153

_____. History of Architectural Conservation. 2002.

_____. Conservation of World Heritage towns: the case of mining towns. In: International symposium on the Iwami Ginzan silver mine sites, Shimane Prefecture, p. 13-18, 2004.

_____. Considerations on authenticity and integrity in World heritage context. In: LÓPEZ MORALES, Francisco Javier. Nuevas miradas sobre la autenticidad e integridad en el patrimonio mundial de las Américas, San Miguel de Allende, v. s/v, n. s/n, p. 35-48, 2005.

_____. Considerations on authenticity and integrity in world heritage context. City & Times, v.2, n. 1, p. 1-16, 2006a.

_____. World Heritage: defining the outstanding universal value. City & Times, v.2, n. 2, p. 1-10, 2006b.

_____. International charters on urban conservation: some thoughts on the principles expressed in current international doctrine. City & Time, v. 3, n. 2, p. 23-42, 2007.

_____. Notes on the definition and safeguarding of hul. City & Time, Recife, v. 4, n.3, p. 41-51, 2010.

O CARIOCA. Jardins brasileiros com flora brasileira. Brejo e caatinga, plantas dos desertos e das aguas com motivos ornamentaes, 20.06.1936, p. 32-33.

PANZINI, F. Projetar a natureza. São Paulo: Senac São Paulo, 2013.

PASOLINE DALL’ONDA, D. Restauto del verde storico nella pianificazione del território, Italia Nostra, v. s/v, n. 128, p. 33-42, 1975.

Como Citar
MARQUES DA SILVA, J. Integridade Visual nos Monumentos Vivos: os jardins históricos de Roberto Burle Marx. Revista Thésis, Rio de Janeiro, v. 4, n. 8, 2024. DOI: 10.51924/revthesis.2023.v4.462. Disponível em: https://thesis.anparq.org.br/revista-thesis/article/view/462. Acesso em: 22 dez. 2024.