Cidade do cuidado

De um urbanismo hegemônico para um urbanismo feminista, situado e transformador

Publicado
2024-08-14
Palavras-chave: urbanismo, feminismo, interseccionalidade, mobilidade urbana

    Autores

  • Clarisse Cunha Linke PPGAU/UFF
  • Rossana Brandão Tavares PPGAU/UFF

Resumo

O agravamento das desigualdades socioespaciais, de gênero e raça tem exigido uma revisão teórica e prática profunda no campo do urbanismo. O debate crítico revela a marginalização de grupos sociais, territórios e práticas espaciais cotidianas, enraizadas nos valores patriarcais, racistas e eurocêntricos. Para um urbanismo transformador, que seja anticapitalista, antipatriarcal, antirracista e anticolonialista, é crucial rejeitar os pressupostos positivistas-tecnocráticos e valorizar outros modos de ser e existir no espaço. No entanto, uma questão persiste: quais práticas podem realmente modificar o curso do que entendemos por urbanismo hegemônico? Neste ensaio, sustentamos que o urbanismo focado no trabalho reprodutivo e de cuidados, predominantemente realizado por mulheres, oferece uma oportunidade para deslocar a prática hegemônica que prioriza cidades produtivas para o capital, em direção a um urbanismo feminista, situado e transformador, que promova cidades que cuidem e garantam a vida. Apresentamos reflexões sobre como o urbanismo e o planejamento urbano privilegiam o trabalho produtivo em detrimento do trabalho reprodutivo, a partir de uma perspectiva marxista feminista. Utilizamos o exemplo da mobilidade urbana para dar suporte às nossas análises a respeito dessas questões,  discutindo o caso de Bogotá, onde a implementação do Sistema Distrital de Cuidados (SIDICU) se destaca como uma abordagem transformadora no Plano de Ordenamento Territorial 2022-2035. Este ensaio visa explorar o potencial avanço ético, político e teórico-metodológico ao adotar perspectivas feministas numa abordagem interseccional no urbanismo através da mobilidade urbana.

 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Referências

ARRUZZA, C.; BHATTACHARYA, T.; FRASER, N. Feminismo para os 99%: um manifesto. 1ª Edição. São Paulo: Boitempo, 2019.

BERTH, J. Se a cidade fosse nossa: racismos, falocentrismos e opressões nas cidades. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2023.

BHATTACHARYA, T. O que é a teoria da reprodução social? In: Socialist Worker, 10/09/2013.

BOGOTÁ. Plan de Ordenamiento Territorial (POT) ‘Bogotá Reverdece 2022-2035. Disponível em: https://bogota.gov.co/bog/pot-2022-2035/

_____________. Oferta de cuidados a cuidadoras. Secretaría Distrital de la Mujer, 2021. Disponível em:

https://www.manzanasdelcuidado.gov.co/docs_/cuidado-a-cuidadoras_/estrategia-cuidado-a-cuidadoras.pdf

CHAVES, K. Entrevista: Verónica Gago. In: Boletim Campineiro de Geografia, v. 11, n. 1, 2021.

COLLINS, P.H. Interseccionalidade. Boitempo, 2021.

CURIEL, O. Construindo metodologias feministas a partir do feminismo decolonial. In Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Org. Heloisa Buarque de Hollanda. pp. 120-138, 2020.

DALMAZZO, M; RAINERO, L. La Voz de las Mujeres en el Plan de Ordenamiento Territorial de Bogotá. In: Crítica Urbana. Revista de Estudios Urbanos y Territoriales Vol.5 núm. 23 Urbanismo Feminista. A Coruña: Crítica Urbana, Março de 2022.

ESCOBAR, A. Sobre el Reequipamento Ontológico de Las Ciudades. In: Astrágalo. Cultura de la Arquitetura y de la Ciudad, 30 (2002), pp. 45-57.

_____________. Worlds and Knowledges Otherwise: The Latin American Modernity/Coloniality Research Program. In: MIGNOLO, Walter; ESCOBAR, Arturo (eds.). Globalization and the Decolonial Option, 2013. p. 33-64.

ESTRADA, M. M. A. Planificación urbana de las Manzanas de Cuidado: el caso de las Redes de Cuidado en San Cristóbal, Bogotá 2020-2023, 9ª Conferencia Latinoamericana y Caribeña de Ciencias Sociales, 2023.

FEDERICI, S. O ponto zero da revolução. Trabalho doméstico, reprodução e luta feminista. São Paulo: Elefante, 2019.

_____________. Além da Pele. Repensar, refazer e reinvindicar o corpo no capitalismo contemporâneo. São Paulo: Elefante, 2023.

FRASER, N. O velho está morrendo e o novo não pode nascer. São Paulo: Autonomia Literária, 2022.

GAGO, V. A potência feminista, ou o desejo de transformar tudo. Editora Elefante, 2020.

HARVEY, D. Neoliberalismo como destruição criativa. Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente, 2006.

HAYDEN, D. The Grand Domestic Revolution. MIT, 1982.

KERN, L. Cidade feminista: a luta pelo espaço em um mundo desenhado por homens. Rio de Janeiro: Oficina Raquel 2021.

KUHNEN, Tania. A ética do cuidado como alternativa à ética de princípios: divergências entre Carol Gilligan e Nel Noddings. Florianópolis, v. 9, n. 3 p. 155 - 168, Set 2010.

LAO-MONTES, A; VASQUEZ, J.D. Crítica Decolonial de la Filosofía y Doble Crítica en Clave Sur. In: MORAÑA, Mabel (ed.). Sujeto, Descolonizacion, Modernidad: Debates Filosoficos Latinoamericanos. Editorial Iberoamericana Vervuert, 2018. p. 293-343.

LEFEBVRE, Henri. La production de l’espace. 4ªed. Paris: Ed. Anthropos, 2000.

LORDE, A. The Master’s Tools will never dismantle the master’s house. Penguin Modern, 2017.

LUGONES, M. Colonialidade e gênero. In Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Org. Heloisa Buarque de Hollanda. pp. 53-83, 2020.

MADARIAGA, Inés Sánchez de. Mobility of Care: Introducing New Concepts in Urban Transport. In Fair Shared Cities – The Impact of Gender Planning in Europe, org. Sánches de Madariaga, Inés and Roberts, Marion. Routledge, London. 2013

MOSER, C. Gender planning and development: Theory, Practice & Training. London and New York Routledge, 2003.

OXFAM. Tempo de cuidar: o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade. Londres, Oxfam, 2020.

SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2001:18.

_____________. A natureza do espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo: Edusp, 2020.

TAVARES, R. B., FERRADÁS, M. N. e SARMIENTO, L. Encarnando o vírus: intervenções epistêmicas e performativas à hegemonia disciplinar na arquitetura e urbanismo, In: Cidades, Comunidades e Territórios, Autumn Special Issue (Oct/2022), pp. 33 – 44.

TAVARES, R. B. e RAMOS, D. H. Indisciplina Epistemológica: Viradas metodológicas para o campo da Arquitetura e Urbanismo, 2021.

VERGÈS, F. Um feminismo decolonial. São Paulo, Ubu Editora, 2020.

Como Citar
LINKE, C. C.; TAVARES, R. B. Cidade do cuidado: De um urbanismo hegemônico para um urbanismo feminista, situado e transformador . Revista Thésis, Rio de Janeiro, v. 9, n. 17, 2024. DOI: 10.51924/revthesis.2024.v9.490. Disponível em: https://thesis.anparq.org.br/revista-thesis/article/view/490. Acesso em: 15 ago. 2024.