Cidade do cuidado
De um urbanismo hegemônico para um urbanismo feminista, situado e transformador
Resumo
O agravamento das desigualdades socioespaciais, de gênero e raça tem exigido uma revisão teórica e prática profunda no campo do urbanismo. O debate crítico revela a marginalização de grupos sociais, territórios e práticas espaciais cotidianas, enraizadas nos valores patriarcais, racistas e eurocêntricos. Para um urbanismo transformador, que seja anticapitalista, antipatriarcal, antirracista e anticolonialista, é crucial rejeitar os pressupostos positivistas-tecnocráticos e valorizar outros modos de ser e existir no espaço. No entanto, uma questão persiste: quais práticas podem realmente modificar o curso do que entendemos por urbanismo hegemônico? Neste ensaio, sustentamos que o urbanismo focado no trabalho reprodutivo e de cuidados, predominantemente realizado por mulheres, oferece uma oportunidade para deslocar a prática hegemônica que prioriza cidades produtivas para o capital, em direção a um urbanismo feminista, situado e transformador, que promova cidades que cuidem e garantam a vida. Apresentamos reflexões sobre como o urbanismo e o planejamento urbano privilegiam o trabalho produtivo em detrimento do trabalho reprodutivo, a partir de uma perspectiva marxista feminista. Utilizamos o exemplo da mobilidade urbana para dar suporte às nossas análises a respeito dessas questões, discutindo o caso de Bogotá, onde a implementação do Sistema Distrital de Cuidados (SIDICU) se destaca como uma abordagem transformadora no Plano de Ordenamento Territorial 2022-2035. Este ensaio visa explorar o potencial avanço ético, político e teórico-metodológico ao adotar perspectivas feministas numa abordagem interseccional no urbanismo através da mobilidade urbana.
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