In memoriam, rememorar, comemorar
Resumo
É com muita satisfação que publicamos a edição do número 11 da Revista Thésis, periódico da ANPARQ - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo. Nós editores nos perguntamos: devemos comemorar mais uma edição? É difícil pensar em comemorar algo após um ano tão avassalador. Se no final de 2020 surgia uma fresta de otimismo e esperança com a diminuição dos números de infectados e mortos por COVID-19 e com as primeiras aplicações de vacinas em vários países, logo em meados de fevereiro deste ano, uma realidade cruel se impôs com as novas ondas e novas variantes, deixando um rastro de devastação e ruínas de grandes proporções. O planeta ao longo de 2021, aterrorizado com os números diários de mortos — maiores que os de uma guerra — não podia imaginar que chegaríamos a dias nos quais mais de 3000 seres humanos perderiam suas vidas sem que médicos, trabalhadores da saúde e o complexo de saúde coletiva, pudessem impedir tal catástrofe. As raspas e restos, cacos,
sequelas e impactos desses dois anos na sociedade mundial e nas populações atingidas — e do que ainda está por vir — não são mensuráveis, tampouco compreensíveis. Do ponto de vista macroeconômico talvez sim; de fato, e como sempre, há previsões por todos os lados. O BIS (Bank of International Settlements), por exemplo, acaba de anunciar a chegada de uma “densa nuvem inflacionária” sobre a América Latina. Na África, os efeitos das medidas de prevenção contra a nova variante Ômicron também já indicam processos de agravamento econômico. Mas e os efeitos disruptivos sociais, ambientais e econômicos — em especial sobre as parcelas mais vulneráveis das sociedades —, as sequelas psicológicas, os impactos na produção cultural e no modo de viver o “novo normal”, a transformação à fórceps de hábitos consolidados e o caldo político obscurantista que encontra ambiente favorável para escorrer por terra arrasada? Esses não são mensuráveis ou previsíveis e escapam da percepção coletiva da sociedade forjada em grande parte nas redes sociais. Não há, em definitivo, algo a comemorar, mas certamente a rememorar.
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Copyright (c) 2021 Fernando Atique, Lidia Quiéto Viana, Marcio Cotrim, Rachel Coutinho Marques da Silva
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