Da várzea à Avenida Pacaembu

sentidos políticos da negligência pública na prática urbanística em São Paulo (1923-1942)

Resumo

A demora e a descontinuidade na execução caracterizaram diversas obras do Plano de Avenidas, em São Paulo. Entre essas, o prolongamento da Avenida Pacaembu, partindo da rua das Palmeiras e estendendo o sistema viário até o rio Tietê. Idealizado em conjunto nos anos 1920 e consolidado no plano de 1930, esse projeto foi implantado esparsamente de 1938 até o fim dos anos 1960. Esta comunicação analisa a viabilização da primeira etapa, dos primeiros debates, em 1923, até sua inauguração, em 1942, quando a avenida alcançou a ferrovia, junto à estação da Barra Funda. No período anterior à construção, identificamos estratégias que garantiram a realização do empreendimento, incluindo a negligência em atender às demandas da população local. Consultando documentos da Câmara Municipal e da imprensa, cotejamos reivindicações populares por melhorias urbanas com o debate público do projeto, contextualizado no fortalecimento da defesa do plano como instrumento orientador do crescimento urbano. Nosso estudo de caso sugere que, ao invés de ineficiente, a administração foi ágil e habilidosa, negociando precoce e vantajosamente os terrenos destinados ao atendimento das “necessidades futuras” do município, bem que à custa das condições de vida dos habitantes da várzea.